Teatro Tivoli BBVA, um teatro de sonho em plena avenida

Teatro Tivoli BBVA um teatro de sonho em plena avenida

Arquiteto Raúl Lino desenhou o Cineteatro em estilo Neoclássico

Frederico de Lima Mayer, importante empresário português no início do século XX, era um homem muito culto e viajado. Apreciador da Sétima Arte, o cinema, que na época começava a ganhar lugar nos interesses das pessoas, quis construir um cinema em plena Avenida da Liberdade.

Influenciado pela cultura europeia da época, convidou Raúl Lino, um dos mais célebres e premiados arquitetos de então, para o desenhar em estilo Neoclássico, à semelhança dos grandes edifícios de Paris, onde se destaca a fachada ricamente trabalhada, de linhas e formas de grande personalidade arquitetónica.

Foi com quatro rosas que o apresentou à sociedade lisboeta e ao mundo no dia 30 de Novembro de 1924. Foram quatro rosas, uma por cada filha: Ana, Rita, Helena e Maria. As quatro compunham – e compõem, até hoje – o bouquet que é o símbolo do Cineteatro Tivoli.

Para a estreia, que foi de gala, foi escolhido o filme Violetas Imperiais, ainda a preto e branco e mudo.

São várias as teorias sobre o nome TIVOLI mas a mais provável é a ligação à localidade Tivoli nos arredores de Roma onde, no século XVI, foram construídos os exuberantes jardins e palácio da Villa d’Este. Deste então, o nome Tivoli foi atribuído a inúmeros jardins e lugares nobres e, no limiar do século XX, o nome chegou às salas de espetáculos um pouco por toda a Europa.  Ao longo dos tempos, Tivoli tornou-se sinónimo de pequeno paraíso, símbolo do luxo, de beleza e também de entretenimento – em suma, de sonho.

Desde a sua inauguração, o CINE-TEATRO TIVOLI foi um fenómeno de popularidade, especialmente entre as classes mais abastadas. O espaço acrescentou à Avenida da Liberdade – herdeira do ancestral Passeio Público – a aura glamorosa de um boulevard parisiense, um lugar social de excelência e belo.

A programação moderna e de vanguarda e a excelência tecnológica – o cinema sonoro chegou logo em 1930 – contribuíram para tornar o Tivoli num dos locais preferidos do público português e em especial alta sociedade lisboeta que, até então, considerava de mau gosto ir ao cinema.

Cada noite de estreia era um acontecimento na cidade e o Salão de Chá, chamado Salão Nobre,  era o sítio onde a elite lisboeta se encontrava durante a tarde, comemorava o carnaval e desfilava as melhores toilettes nas glamourosas e concorridas festas de fim-de-ano.

Qualquer motivo servia de pretexto para a nata da sociedade se encontrar no Tivoli, e muitos negócios se desenvolveram e foram fechados aqui.

Após a reabertura em 2012, já sob a gestão da UAU, estabeleceu-se uma parceria com o JNCQUOI, que mantém o espaço desde 2017. Sempre nobre, não acolhe apenas portugueses mas cada vez mais clientes internacionais.

Por amor à arte desde o cinema mudo

O filme de estreia a 30 de Novembro de 1924, foi Violetas Imperiais, de Henri Rousell e Raquel Meller. Na altura, o cinema era mudo, pelo que a exibição foi acompanhada por um sexteto de cordas regido pelo violinista Nicolino Milano. No ano seguinte, em 1925, o teatro ganhou protagonismo com a fundação da Companhia Teatro Novo, dirigida por António Ferro. Neste mesmo ano, dá-se a primeira apresentação de um filme português, Os Olhos da Alma, de Virgínia de Castro e Almeida de Roger Lion.

Ao longo da década de 30 houve necessidade de adquirir equipamento sonoro e a 5 de Novembro de 1930 estreou o primeiro filme com som, A Parada do Amor, com Maurice Chavalier e Joanette Mac Donald. Em 1934 estreia o primeiro filme sonoro português, Gado Bravo, de António Lopes Ribeiro. As bodas de prata festejam-se em 1949, com um espectáculo que juntou os Bailados Portugueses, o Fado de Amália Rodrigues (onde estreou o tema O Fado de Eugénia Câmara, com música de Raúl Ferrão e letra de Pereira Coelho) e a Orquestra Tavares Belo.

Na década de 50 o Teatro teve necessidade de obras de melhoramento e renovação de algumas zonas,  como o alargamento da boca de cena, a cabine de projecção de cinema e a cave. De novo pela mão de Raúl Lino, foram efectuadas obras e, em 1954, estreou A Túnica, o primeiro filme em sistema cinemascópio. A Música no Coração, recordista de permanência em exibição por 10 meses seguidos, marcou o ano de 1966, ao que se seguiram anos financeiramente mais complicados.

Entre os anos 70 e 90, o Teatro Tivoli teve vários donos, entre eles João Ildefonso Bordallo e Emiliano Revilla. Durante estas décadas houve algumas intervenções de demolição com o objectivo de transformar o edíficio num hotel. Estas obras pararam quando, em 1997, o Tivoli foi classificado Imóvel de Interesse Público, não podendo ser demolido. Reabriu em 1999, como palco de vários programas de televisão, spots publicitários e espectáculos ocasionais. No final de 2011 a UAU, empresa produtora de espectáculos, adquiriu o Tivoli com o objectivo de o recuperar, gerir e devolve-lo aos lisboetas.

É o único teatro português privado classificado monumento de Interesse Público, desde 2015 e foi a primeira sala portuguesa de espectáculos a ter o naming de uma empresa, com o apoio do banco BBVA. De novo inovador, o agora Teatro Tivoli BBVA ganhou nova vida e não mais parou.

A tipologia do teatro é de cena contraposta de influência italiana, constituída por plateia, frisas, camarotes, 1º e 2º balcões, palco com 24,70m de largura por 11m de profundidade. A sua boca de cena tem 13,55mde largura por 6,95m de altura.

Actualmente a sua capacidade é de 1149 espectadores e no que respeita à decoração na sala fazemos notar que a riqueza de detalhes diminui conforme se sobe, sendo praticamente inexistente ao nível do 2º balcão, reservado às classes mais baixas.

Desde 2013, esta sala tem sido alvo de restauro. Salientamos que o chão em madeira é original, tendo sido retiradas as alcatifas que o cobriram durante décadas. Os forros das cadeiras também foram restaurados, recuperando o seu tom original. Estudos feitos permitiram identificar as cores originais das paredes, obra ainda em processo.

Noutras zonas do espaço, foram construídos novos camarins, dotados das funcionalidades e do conforto necessários, uma sala de ensaios, lavandaria, novas instalações sanitárias para uso público e zonas de escritórios. Foram adquiridos novos equipamentos técnicos e de palco capazes de cumprir os requisitos de qualquer tipo de espectáculo ou evento.

Este restauro e modernização exigiu, e exige diariamente, um esforço financeiro acrescido para gerar as receitas necessárias uma vez que estes custos, num total de 3 milhões de euros, foram assumidos pela UAU, proprietária do espaço, que contou apenas com o apoio de algumas empresas e entidades, não podendo concorrer à Lei do Mecenato.

Existe ainda o Sótão, zona nova, totalmente reconstruída a partir de antigos arrumos. Ampla, tem capacidade para 200 a 300 pessoas em pequenos eventos volantes ou sentados. Está preparada para apresentações multimédia e pequenos espectáculos de teatro ou música. Tem um bar que assegura o serviço de cafetaria em dias de espectáculo. É perfeita para cocktails ou eventos de lançamentos de produtos. Como fundo, a antiga sala de projecção, um núcleo museológico que guarda a memória da génese deste nosso Cine Teatro Tivoli.

 



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