Livraria Buchholz: a vida recomeça aos 80
Reabilitada e revitalizada, uma das mais históricas livrarias de Lisboa acaba de se apresentar à cidade recheada de novidades. Entre os maiores nomes da literatura e livros sobre as grandes questões da atualidade, a Buchholz volta a vender discos, obras de arte, a promover concertos e conversas. E há mais: uma mostra de objetos pessoais de autores, incluindo manuscritos de José Saramago e António Lobo Antunes
Entre o regresso ao passado e um salto para o futuro, a Buchholz tem uma vida nova com os pés bem assentes no presente. Numa celebração dos seus 80 anos de histórias, a livraria da Duque de Palmela apresenta-se de cara lavada, com uma aposta reforçada nos grandes nomes da literatura e do pensamento, uma preocupação acrescida em dar espaço aos novos nomes da ficção, uma oferta reforçada de livros em línguas estrangeiras e muitos títulos sobre a cidade de Lisboa. As novelas gráficas, os livros sobre artes plásticas e música também aparecem com novo fôlego, a acompanhar os espaços dedicados aos discos em vinil e às obras de artistas portugueses, duas apostas na curadoria independente, a cargo da Flur Discos e da Icon Shop.
Os três andares forrados a madeira e unidos por uma monumental escada em caracol voltaram também a acolher ciclos de conversas, concertos e provas de vinhos, entre muitas outras iniciativas. Há também três mostras permanentes, uma dedicada à Dom Quixote e à sua fundadora, Snu Abecassis, outra sobre a editora que lançou o único Nobel português e uma terceira, em dois pisos, com objetos pessoais de autores, como manuscritos de António Lobo Antunes e José Saramago, a primeira máquina de escrever de Isabela Figueiredo e as canetas preferidas de Lídia Jorge. Num mundo cada vez mais digital, esta é uma aposta na interação analógica e intransmissível. Os temas vão da literatura às grandes questões da atualidade. Ao fim de um dia de estudo ou de trabalho, os lisboetas têm novo espaço de encontro e fruição.
A ideia desta renovação foi recuperar o ADN deste espaço histórico. Fundada pelo alemão Karl Buchholz no verão de 1943 na Avenida da Liberdade, a livraria mudou-se em 1965 para uma das ruas paralelas à avenida, mesmo ao pé do Marquês de Pombal. Nesta altura, em pleno Estado Novo, já a Buchholz era um espaço de tertúlias e resistência. Tanto a discoteca de música clássica, como a galeria de arte, onde se apresentaram artistas como Helena Almeida, Noronha da Costa e Mário Cesariny, depressa se tornaram referências incontornáveis da vida cultural da cidade.
Junto às estantes que vão do chão até ao teto, encontraram-se nomes como os dos escritores e poetas António Lobo Antunes, David Mourão-Ferreira, Al Berto e Assis Pacheco. A Buchholz foi também ponto de referência para vários dos nomes que escreveram a história política do país, como Mário Soares, Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Francisco Pinto Balsemão. E foi num encontro fortuito entre Miguel Esteves e Cardoso e Paulo Portas, ambos clientes habituais, que nos anos 80 aqui nasceu a ideia para o irreverente semanário O Independente.