Hotel Britania, uma jóia desenhada por Cassiano Branco
O charme dos anos 40 aliado ao conforto moderno
Situado no coração de Lisboa, o Hotel Britania abriu as portas a 13 de Outubro de 1944 com o nome de Hotel do Império. Numa altura em que se fomentava o gosto pelo luxo e pelo “moderno”, o Hotel do Império tornou‐se rapidamente um símbolo dessa modernidade.
O carácter inovador do hotel, projetado pelo arquiteto modernista Cassiano Branco, passava pela estrutura do edifício de 5 andares, com paredes duplas e terraço, e pelo sistema de alojamento que oferecia pequenos apartamentos constituídos por antecâmara, saleta, quarto e casa de banho privada, estrutura inédita na época em Portugal. Inovadores eram igualmente os equipamentos disponíveis nos quartos entre os quais telefone, aparelho de telefonia e máquina de escrever. O hotel dispunha ainda de máquinas de descalcificar e de um sistema de sinais luminosos que substituíam as habituais campainhas.
A decoração, a comodidade e a modernidade, para além de um serviço impecável, tornavam o Hotel do Império verdadeiramente único na Lisboa dos anos 40.
Durante três décadas o hotel permaneceu praticamente inalterado. Em meados dos anos 70 passou a chamar‐se Britania e sofreu mudanças significativas mantendo‐se, no entanto, intacta a estrutura do edifício: as pinturas a fresco da Receção e do Bar foram cobertas e desapareceram todas as referências que remetiam para o antigo Hotel do Império. Os tetos foram rebaixados e os mármores das paredes e todos os pavimentos foram tapados por painéis de madeira e alcatifas, tão ao gosto da época.
Nos anos 80 reverteu‐se essa tendência ao ser recuperado e posto a nu o pavimento original em mármore da Receção.
Na década de 90 iniciaram‐se trabalhos profundos de restauro com vista a recuperar o belo edifício Art Déco e a valorizar e divulgar o passado riquíssimo deste hotel. Os trabalhos incidiram, em primeiro lugar, na estrutura do edifício, respeitando a sua originalidade e integridade e utilizando materiais de qualidade essencialmente nacionais. Posteriormente, recorrendo a mão‐de‐obra especializada, as intervenções incidiram nos elementos decorativos mais significativos, com destaque para as pinturas da Receção e do Bar, os estuques, os pavimentos de mármore e madeira e o portão de entrada de vidro e ferro, projetado em 1942 por Cassiano Branco, mas que, curiosamente, nunca tinha sido realizado.
Em 2004, comemorando os 60 anos do hotel, foi restaurado o chão original dos quartos, executado em 1944 em mosaico de cortiça pela Fábrica Mundet. Esse pavimento, que repete os motivos geométricos do mármore do chão das casas de banho, foi recuperado de acordo com o desenho e as técnicas originais. Tal como se anunciava há 70 anos, o pavimento em cortiça portuguesa continua a transmitir hoje a mesma sensação de “segurança, conforto, saúde e bem‐estar”. Todo o mobiliário existente foi realizado propositadamente para o Hotel do Império pelos Móveis Costa (Porto) e foi, também ele, objeto de cuidadoso restauro.
Nos quartos, tendo como base fotografias e notícias publicadas nos jornais e revistas da época da inauguração, retomou‐se, num estilo contemporâneo, a ideia da decoração inicial: as diferentes cores dos lustres de cristal foram o ponto de partida para criar três ambientes distintos. Também o papel e o tecido que forram atualmente a parede da cabeceira da cama remetem para a decoração original dos anos 40.
No terraço, ocupado desde os anos 60 com diversas construções de carácter precário, construiu‐se, em 2005, um piso recuado. O projeto, da autoria do atelier de arquitetura Promontório Arquitetos, recuperou o sentido do “moderno” expresso na arquitetura de Cassiano Branco. Tal como nos restantes pisos, os materiais utilizados foram a madeira, o mármore e a cortiça e a decoração dos novos quartos integra peças originais de mobiliário Art Déco.